A blindagem que já existe, só muda a cor da camisa
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A PEC da Blindagem caiu no Senado, mas a proteção seletiva continua firme, bastando estar do lado certo da cor política
Por Andrey Neves
A chamada PEC da Blindagem caiu na CCJ do Senado sob vaias, discursos inflamados e o carimbo de “vergonhosa”. Segundo o relator Alessandro Vieira (MDB-SE), ela abriria as portas do Congresso para o crime. Bonito ouvir isso de Brasília, onde portas abertas já não faltam.
A proposta permitiria que parlamentares julgassem se eles mesmos poderiam ser presos ou processados. É como entregar a chave do presídio ao detento e esperar que ele não fuja. Parece piada, mas não é.
Agora, caro leitor, vamos à memória recente. Quantos corruptos famosos estão atrás das grades no Brasil hoje? Pois é. Difícil lembrar de algum. Mas e os presos de 8 de janeiro? Esses estão lá, sem direito a deliberação própria, sem foro privilegiado e sem amigos togados.
Eram militantes com camisetas verdes e amarelas, não as de Che Guevara. Uns desajeitados que acharam que invadir prédio público resolveria algo. Foram enquadrados, julgados e punidos. Já os engravatados de sempre, aqueles que brincam com bilhões em contratos e respiradores fantasmas, continuam dando entrevistas e até presidindo tribunais.
O senador relator chamou a PEC de absurda. De fato, seria perigosa. Mas convenhamos: no Brasil, onde a justiça já é seletiva, talvez ela só deixasse as cartas mais visíveis. No mínimo, serviria para garantir que a oposição não fosse calada nem nas redes sociais.
Se este país fosse sério, Lula não estaria no Planalto. Se este país fosse sério, Flávio Dino não teria virado ministro do STF sem antes responder pelo dinheiro evaporado dos respiradores no Maranhão.
No fim das contas, a PEC foi rejeitada. Mas não se engane: a blindagem já funciona. Só que para acessar o benefício, basta vestir vermelho.