Tagliaferro é réu no Brasil onde a Justiça é cega

Publicado em: 10/11/2025 09:17Tags: , , ,

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Quando o acusado é o juiz e o juiz é o próprio sistema

Por Andrey Neves

Em Brasília, não é preciso ser mágico para sumir com processos. Basta estar na cadeira certa. No país onde o foro privilegiado virou capa de invisibilidade, o roteiro é sempre o mesmo: o poderoso é acusado, o caso sobe para o tribunal, e o tribunal é composto pelos próprios amigos do acusado. No final, todos se dizem “impedidos”, ninguém é culpado e o contribuinte continua pagando a conta.

O ex-assessor de Alexandre de Moraes, Eduardo Tagliaferro, aprendeu da forma mais cruel o que significa desafiar o topo da pirâmide. Em vez de usar o canal institucional que na prática leva a lugar nenhum, resolveu expor o que via de errado. Resultado: virou réu. No Brasil da lei, quem fala demais é punido; no Brasil do poder, quem manda demais é intocável.

Se Tagliaferro tivesse escolhido o caminho da lei, onde levaria sua denúncia ao CNJ ou à PGR, o que teria acontecido? Simplesmente hoje você, caro leitor, não teria conhecimento do nome de Tagliaferro, porque facilmente seria calado. Seria um bate e volta mais rápido do que as sacoleiras que vão de Brasília a São Paulo na Feirinha da Madrugada. O processo não andaria, e se andasse, só Deus pra falar o fim desse homem.

Do outro lado, Flávio Dino, agora de toga no STF, protagoniza o déjà vu perfeito. Como governador, o Maranhão gastou milhões em respiradores que nunca chegaram. O caso se arrastou, perdeu o fôlego e, por obra do destino, foi parar justamente na Corte onde o próprio Dino hoje desfila com a caneta na mão. Se aparecer algo sobre ele, pode ficar tranquilo: o processo cairá no colo certo, o da autoproteção.

No fundo, não é sobre direita ou esquerda. É sobre casta. O Brasil aprendeu a funcionar assim, com uma elite jurídica e política que se julga, se absolve e se elogia. Enquanto isso, o cidadão comum continua acreditando que a Justiça é cega. É cega, sim, mas só quando interessa.

A diferença entre o Brasil da lei e o Brasil do poder é exatamente essa, e entender isso não é pessimismo, é lucidez política.

Tags: STF, Flávio Dino, Alexandre de Moraes, impunidade

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