Magistrado Choca ao Falar de Crianças Autistas: ‘Largar em Clínicas é um Livramento

Published On: 25/11/2024 14:15

Compartilhar

Declarações de Antônio Saldanha sobre famílias e tratamento do autismo geram indignação e debate público

Por Kelly Souza

Na última sexta-feira, dia 22, durante um fórum de saúde, o magistrado Antônio Saldanha fez declarações que geraram preocupação entre pais e responsáveis por crianças autistas. Em sua fala, Saldanha sugeriu que essas famílias estariam “largando” seus filhos em clínicas especializadas por 6 a 8 horas diárias, tratando esses espaços como uma forma de “livramento” dos problemas enfrentados no dia a dia.

“Para os pais, é uma tranquilidade saber que o seu filho, que tem um problema, vai ficar de 6 a 8 horas por dia em uma clínica especializada, passeando na floresta. Mas isso custa. Tem uma parte que é médica, outra parte é mais pedagógica, comportamental… E a gente vai ter que enfrentar isso”, afirmou o magistrado.
Toda mãe e todo pai, ao aguardarem a chegada de um filho, seja ele planejado ou não, sempre sonham com um futuro cheio de realizações para a criança. O “problema” citado pelo ministro não é algo que escolhemos ou desejamos. Nós, pais de filhos neuroatípicos, também sonhamos com médicos, engenheiros, empresários e até presidentes, e não com um diagnóstico que pode limitar as oportunidades na vida de nossos filhos.

Falas como a do ministro, que evidenciam ignorância e falta de sensibilidade, apenas reforçam o tamanho da luta que ainda precisamos travar por inclusão, respeito e compreensão.

Essas declarações trouxeram à tona uma série de reflexões sobre as dificuldades enfrentadas por famílias que convivem com o transtorno do espectro autista (TEA). Para muitos, essas poucas horas em clínicas especializadas representam não uma solução definitiva, mas um suporte fundamental em meio aos inúmeros desafios diários. É importante destacar que essas horas são dedicadas ao aprendizado e ao desenvolvimento de habilidades que, para pessoas neurotípicas, podem parecer simples, mas que para autistas são extremamente complexas.

Além disso, o acesso a essas clínicas e tratamentos geralmente envolve custos altos, pagos por meio de impostos, mensalidades ou outros esforços financeiros que muitas vezes ultrapassam as capacidades dessas famílias. Ainda assim, o suporte oferecido nesses espaços é considerado mínimo diante das necessidades das pessoas no espectro.

A fala do magistrado também evidencia uma lacuna de entendimento sobre a realidade enfrentada por essas famílias. O cotidiano de pais e responsáveis por crianças autistas está longe de ser “tranquilo”. Pelo contrário, é marcado por preocupações constantes e ansiedade quanto ao futuro de seus filhos. O TEA não é um problema isolado dessas famílias, mas uma questão social que exige políticas públicas efetivas e suporte governamental.

Quando figuras públicas ou celebridades se posicionam sobre o tema, há uma maior atenção da sociedade e do governo. No entanto, as famílias carentes, que representam uma parcela significativa da população impactada, muitas vezes permanecem invisíveis e sem acesso ao suporte necessário.

A comunidade autista e seus familiares pedem que as autoridades, incluindo magistrados e formuladores de políticas públicas, busquem compreender mais profundamente essa realidade. Um olhar mais sensível e informado pode ajudar a construir um futuro com maior inclusão e acesso a tratamentos adequados.

Faça um comentário