A fala inaceitável de Hélvia Paranaguá sobre estudantes autistas
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Por Kelly Gomes
Como mãe de uma criança autista, não consigo esconder minha indignação diante das declarações feitas pela secretária de Educação do Distrito Federal, Hélvia Paranaguá, em entrevista ao DFTV nesta terça-feira (7/1). Para ela, o aumento do número de estudantes com Transtorno do Espectro Autista (TEA) na rede pública é um dos fatores que contribuem para a falta de vagas nas escolas do DF. Essa fala é não apenas absurda, mas também uma demonstração clara de preconceito e despreparo de alguém que deveria zelar pela inclusão e pelo direito à educação de todos.
Hélvia afirmou que a explosão no número de crianças diagnosticadas com TEA impacta o tamanho das turmas devido à lei de inclusão. O que ela parece ignorar – ou escolhe ignorar – é que essas crianças não são “problemas” ou “estatísticas”. São cidadãos e cidadãs com direitos garantidos pela Constituição. Reduzir a discussão da falta de vagas à presença de alunos com TEA não é apenas capacitismo, é desumano. A fala da secretária transmite a ideia de que crianças como meu filho, que já enfrentam tantos desafios, são culpadas pelo caos na gestão educacional.
É revoltante que, ao invés de admitir a falta de planejamento e a ausência de políticas inclusivas, Hélvia prefira responsabilizar os mais vulneráveis. Onde estão os estudos e projeções demográficas que deveriam nortear a ampliação da rede pública? Onde estão os investimentos para a construção de escolas, contratação de professores e criação de turmas que atendam à crescente demanda? Essas questões, que deveriam ser prioridade, são convenientemente deixadas de lado.
A fala da secretária me lembrou a de um ex-ministro da Educação que, em um momento lamentável, declarou que crianças com deficiência “atrapalham” o aprendizado dos colegas. Hélvia parece seguir pelo mesmo caminho. É inaceitável que, em pleno 2025, ainda tenhamos que lutar contra esse tipo de mentalidade retrógrada e excludente. Meu filho – e tantas outras crianças com TEA – não atrapalha ninguém. Ele enriquece a sala de aula com sua presença, com sua forma única de enxergar o mundo, e tem o mesmo direito à educação de qualidade que qualquer outra criança.
Por que não falar da superlotação das salas de aula, que há anos é denunciada pelo Sinpro? Por que não mencionar que em regiões como Paranoá e São Sebastião, o problema é ainda mais grave? É mais fácil culpar crianças autistas do que assumir a incompetência de uma gestão que não consegue atender às demandas básicas da população.
Por último, mas não menos importante, culpar estudantes autistas pela falta de vagas nas escolas públicas não é apenas errado, é cruel. Meu filho e tantas outras crianças não pediram para serem usadas como bode expiatório para a má gestão educacional. Elas têm o direito constitucional de estudar em salas inclusivas, com condições que respeitem suas necessidades e garantam seu aprendizado.
Hélvia Paranaguá, ao proferir essas palavras, não só falhou como gestora, mas também como representante de uma educação que deveria ser inclusiva, acolhedora e igualitária. Suas declarações não refletem apenas preconceito; refletem também a negligência e a covardia de quem se recusa a assumir as próprias responsabilidades.