Marca brasiliense de streetwear surgiu da vontade de deixar a vida ilícita e hoje veste até Marcelo D2

Por Andrey Neves

O nome °Agriffe Street Company já circula nas ruas da Ceilândia e no meio artístico do DF como referência no estilo periférico e autêntico. Mas o que pouca gente sabe é que a marca nasceu de um recomeço: a decisão corajosa de Marcelo NeguiN de trocar a adrenalina do corre ilícito pela construção de um futuro digno.

“No começo foi pra abandonar a época do corre, sair das coisas erradas e ir pra um corre honesto”, conta Marcelo. Sem saber por onde começar, ele agarrou a única ideia que parecia possível: criar algo para a sua galera, os °Anjos Grafiteiros. Em 2018, usou o que tinha guardado, comprou moletons, fez bordados e anunciou no grupo. “Todo mundo pediu, mandou tamanho, cor… No final, só três pagaram.”

Foi um baque. Mas aí entrou em cena Byako, grafiteiro e futuro sócio. Apareceu na loja onde Marcelo trabalhava vendendo açaí, pagou 10 peças à vista, levou mais 10 no fiado e vendeu tudo. E o mais impressionante: vendeu fora da bolha, pra geral. “A galera do grupo ficou bolada, porque era pra ser só pra nós. Mas aí explodiu uma voz na minha cabeça: vou vender pra todo mundo.”

Nascia ali, no improviso e na ousadia, a °Agriffe. Uma marca de streetwear pensada por e para a quebrada, voltada a grafiteiros, MCs, artistas de rua. “A gente cria pra quem vive o rolê, pra quem se expressa pela arte e pela rua”, resume Marcelo. A venda hoje é virtual, mas o plano agora é expandir para o atacado e dar a chance de outras pessoas tirarem uma renda com a marca.

Nada foi fácil. “Entrar nesse mercado, competir com marcas grandes…” Mas a evolução veio. “Hoje nosso algodão tem gramatura igual ao da MCD, Oakley… A galera sente a diferença.”

A °Agriffe também é ação social. Letícia, sócia da marca, promove sopões para pessoas em situação de rua e outras iniciativas solidárias. E o orgulho bate forte em momentos como o que vivenciaram com o rapper Marcelo D2. No show do Planet Hemp em Brasília, Byako foi escolhido para grafitar ao vivo. “O D2 vestiu nossa peça e ainda fez um pixo com ela. Foi muito foda.”

Hoje, com novos produtos vindo aí — como a linha de óculos — e uma equipe que se completa, Marcelo sabe o quanto valeu a pena não desistir. E deixa o conselho: “Muito foco, conheça seu público e não desanime. Vai ter peça que encalha, vai ter fase ruim. Mas lá na frente o saldo vem. Sempre vem.”

A °Agriffe é mais do que roupa. É arte, resistência, superação. É a prova de que da quebrada nasce potência.

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